sábado, 10 de outubro de 2009

O cinema nacional e a busca por espectadores fiéis

*Daniele Sampaio

A questão da verdadeira identidade do cinema brasileiro é uma questão recorrente, mas qual seria o melhor retrato do povo brasileiro; os morros e a classe média carioca ou os sertões, sua seca e miséria?


Cinema, aspirinas e urubus

Pedro Butcher, crítico da Folha de São Paulo escreveu em seu livro "Cinema Brasileiro Hoje", que não existe uma representação de identidade através do cinema, mas sim um olhar pessoal de seu autor. Butcher cita o crítico e cineasta francês François Truffaut, que ajudou a revolucionar o pensamento cinematográfico no fim dos anos 50. Para Truffaut, o cinema americano seria uma forma impositiva de expressão, mas um exemplo de cinema nacional (para os americanos). Outros poucos exemplos poderiam representar a idéia de identidade de uma nação, como as produções italianas, entre as décadas de 40 e 50, do período pós-Segunda Guerra.

Paulo Schettino, professor de Relações Públicas da Uniso e mestre em Comunicação Social pela USP (com especialiazação em cinema), concorda, em aspectos com Butcher. “O brasileiro perdeu o hábito de procurar assistir aos filmes brasileiros. Depois de quase cem anos de distribuição e exibição de seus filmes em quase todo o mundo, os EUA acabaram por tornarem-se o modelo preferido pelas massas”, diz.

Segundo dados do blog dos alunos de Comunicação Social da Universidade Estácio de Sá, um único lançamento nacional obteve números expressivos em 2008: “Meu nome não é Johnny”.
O filme do diretor Mauro Lima, levou aos cinemas mais de dois milhões de pessoas. Em matéria publicada no portal UOL, a agência de notícias Reuters contabilizou que em 2007 dez milhões de pessoas foram ver filmes nacionais, contra 80 milhões de espectadores de filmes internacionais.


Mas yes, nós também temos blockbusters!


Duas pesquisas mostram que o cinema nacional está conquistando seu espaço nas salas de cinema brasileiras. A primeira, realizada em 2006 pelo Fórum de Festivais e pelo Instituto Brasileiro de Estudos de Festivais Audiovisuais (Ibefest), revelou que a popularidade do cinema brasileiro só vem aumentando. Somente em 2006 quase três milhões de pessoas assistiram a festivais de cinema nacional. Outra pesquisa, mais recente, realizada pela Datafolha no mês de maio deste ano, concluiu que na cidade de São Paulo, 65% dos adultos que assistem a filmes com freqüência, consideram o cinema nacional bom ou ótimo.

O filme “Se eu fosse 2”, já é o segundo na lista dos maiores em faturamento de todos os tempos no país, competindo com produções internacionais multimilionárias, como “Homem Aranha”. No ranking, o representante nacional só ficou atrás de “Titanic”.

Para o professor Schettino, este sucesso é resultado de um trabalho focado da produtora. “Pode-se dizer que com a entrada da Globo Filmes no mercado cinematográfico, surge um novo surto de vida para o Cinema Brasileiro.” A Globo Filmes, em seus 11 anos de existência já produziu grandes sucessos de público (leia-se as maiores bilheterias dos últimos anos) como “Carandiru”, “2 Filhos de Francisco”, “Cidade de Deus” e “Meu nome não é Johnny”.

Érico Borgo, articulista do site Omelete, especializado em cinema, fez a seguinte observação sobre o filme: “Em 2006, o cinema nacional deu uma de Hollywood e repetiu com “Se Eu Fosse Você”
uma batida fórmula de sucesso oitentista, a do filme de troca de corpos. Agora, com o espetacular resultado de público da comédia - o filme nacional mais assistido naquele ano - os produtores daqui repetem a dose e fazem uma continuação. Igualzinha às que se fazem por lá. E por que não?”
E Schettino arremata: “Os brasileiros não vão ao cinema que exibem filmes brasileiros, mas não saem de frente da televisão, mesmo quando ela exibe filmes brasileiros. É preciso pensar sobre isso”.
A Globo Filmes pensou.

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