domingo, 25 de abril de 2010

Moro no "patropi" do esquecimento

Por Daniele Sampaio

Responda rápido: quem é o cantor brasileiro, que fez grande sucesso nas décadas de 60 e 70 e levou uma multidão ao Maracanãzinho? Tinha um programa na Rede Record e uma de suas músicas mais famosas é País Tropical? Ah, ele não era da turma da Jovem Guarda, nem da Tropicália. Acrescente também, que este cantor ficou tão rico a ponto de ter 3 Mercedez Benz, mas morreu “no esquecimento”. Era grande amigo de Pelé, e até chegou a viajar com a seleção brasileira de futebol, campeã em 70? Não se espante ao ouvir a resposta: o nome dele é Wilson Simonal.




Esta semana estive assistindo ao documentário Simonal - Ninguém sabe o duro que dei, depois de tanto aguarda-lo nas salas de cinema do interior – o que não aconteceu. Nas locadoras a procura também foi difícil, mas nada que a internet com esses adoráveis sites ilegais não resolva.
O filme é de 2009, dirigido por Claudio Manoel (sim, o Casseta), Micael Langer e Calvito Leal.

Devo dizer que desde algum momento de minha vida me encantei por Simonal. E não sei dizer quando foi, já que a máxima recordação que tenho é de ter ouvido esse nome na infância, com uma certa admiração. Talvez por isso mesmo – por um tipo de osmose musical - eu seja igualmente encantada por Simoninha, e mais ainda por Max de Castro, ambos filhos de Simonal. (Aliás, Simoninha e Max estão rodando o Brasil com a turnê do dvd Baile do Simonal, apresentado os maiores sucessos do pai).
E foi engraçado porque, quando aquele negão charmo-síssimo, cheio de carisma, surgiu na primeira cena do filme, contando uma piada racial, senti por ele algo tão familiar... E mais ainda ao ouvir suas músicas e ver suas performances; ao conhecer a sua história.

Simonal jogou toda a sua popularidade e sucesso na lata do lixo, ao se envolver em uma mal contada história que ligava seu nome ao órgão de repressão da ditatura militar, o DOPS.

Como o documentário nos conta, Simonal foi um dos maiores artistas da música. Sim! À altura de Roberto Carlos!
(Aí você pode pensar....”mas caramba nunca ouvi / ouvi muito superficialmente falar sobre esse cara”). Mas há uma explicação para isso.

Na ocasião, Simonal desconfiou que seu contador desviava dinheiro de sua conta. Para resolver o problema, Simonal, que fora do Exército antes de ganhar seu pão como cantor, mandou que alguns “amigos” dessem uma “lição” no tal contador, que foi levado ao DOPS e torturado à moda dos subversivos.
E o resto é história... Simonal foi relegado ao desprezo pela imprensa (destaque para o tablóide O Pasquim), pela classe artística que lutava contra o militarismo e, enfim, pelo público.

Simona (como também era chamado) morreu tentando desdizer seu envolvimento com a política truculenta, sem, no entanto, jamais se redimir de seu maior pecado: fazer música para divertir enquanto o país fazia música para protestar. Simonal é o pai do nosso pop.
Num Brasil de tantas merdas musicais, deixemos o julgamento de lado, e demos a Simonal a posição que ele merece na música popular brasileira.Ou ao menos a lembrança.

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